quarta-feira, 6 de março de 2013

Sobre os prótons e elétrons*


“O mal do mundo moderno é a liberdade”... Pesada essa afirmação, não é? Também acho. Ela foi feita por um sujeito social, provavelmente pai de família. Imagino nele também a figura de um bom cristão, daqueles que vai todo domingo à igreja, paga todos os seus dízimos e dá esmola aos pedintes. E digo assim tomando como base o perfil de sua foto. Alguém poderia condenar tal homem santo, zelador e propagador dos bons costumes? Jamais, não é mesmo?
Pois é, interessantemente nossa sociedade está repleta de bons samaritanos como esses. Sujeitos que são exemplos de prática moral e cívica. E aqui não desejo recriminá-los por serem como são ou acreditarem no que acreditam, afinal não é um direito que lhes assiste? Eu, porém, na condição em que me colocam e colocam a muitos como eu, não correspondo ao perfil sagrado tão aceito por esses indivíduos.
Pronto, já podemos nos dar as mãos e seguir rumo a um futuro posterior longe de rancores, preconceitos e conflitos? Não... Espera! Tinha esquecido um detalhe importantíssimo: tais pessoas não aceitam, de maneira alguma, aquilo que está além de seu mundo sagrado! Para elas é melhor sentir dor a gozo, fazer guerra ao invés de semear a paz. Para elas é melhor, muito melhor, abrir mão da LIBERDADE e encará-la como um “mal da modernidade” a nos tornar sujeitos livres, apesar de diversos e diferentes.
Como deveria eu me sentir nessa situação? Qual o meu lugar perante a uma sociedade higiênica daquilo que é considerado “anormal”, “desviante”, “ofensivo”, “intolerável”, “ridículo”, “insano” – só para citar alguns– ? Deveria eu me calar e aceitar de bom grado a difamação e, quem sabe, até a tomada de minha liberdade? Eu respondo a esta pergunta: JAMAIS!
Talvez o que mais me irrite, a ponto de ficar em nervos, é que quando é tocado algum objeto de sua crença, defendem com unhas e dentes seus princípios e ai de quem estiver envolvido no “babado”! Alguém se lembra da grande polêmica acerca da retirada da frase “Deus seja louvado” nas cédulas de real ou das declarações infundadas do Pr. “psicólogo” Silas Malafaia? Seu objetivo era claro: converter, a qualquer custo, sem se importar realmente se aprovávamos ou desejávamos aquilo.
Agora, quando o assunto é tocante a nossa categoria, somos um bando de desocupados, de ressentidos, que nos ofendemos tão facilmente, não é? Veja-se o que aconteceu em uma recente matéria publicada no site UOL sobre uma apostila que usava, sim, de uma visão preconceituosa, onde o naturalmente correto seria a junção heteronormativa: homem-mulher. Quer dizer que dois homens não podem, ou não devem se atrair? Em declaração à matéria o diretor da escola afirmou: "O normal é que o sexo masculino seja atraído pelo sexo feminino, não tem nada a ver com homofobia.", então quer dizer que não tem nada a ver com homofobia, mas somos considerados anormais? Que monte de paradoxos ridículos! (Ver matéria:http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/03/05/associacao-lgbt-denuncia-escola-por-material-didatico-homofobico.htm#comentarios)
Reprodução do material sobre o princípio da atração e repulsão
A primeira citação supracitada foi de um desses defensores morais do “mundo moderno”, o qual juntamente com a maioria das pessoas que comentaram tal matéria fomenta e subsidia uma visão religiosa – é isso mesmo, da moral cristã! – e conservadora de visões medievais de existir e ser no mundo.
Só pra finalizar: não sou um próton, nem um elétron para estarem me utilizando como exemplo didático de seus livros infantis. Sou um ser humano, dotado de consciência e de direitos, inclusive da liberdade que querem me tirar. Portanto quando quiserem fazer chacota de mim, e assumirem seu mundinho limitado de ser, faça-me o favor: sejam homens de verdade!

*Texto também publicado em http://blogallysonmoreira.blogspot.com.br/

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