O objeto de estudo da psicanálise já é extremamente
controverso: a mente, e não bastasse ter um objeto de estudo tão “polêmico” a
psicanálise também é preferencialmente criticada por muitos leigos em função de
seus recursos de estudo utilizados (métodos de introspecção, conseguida, por
exemplo, pela prática da hipnose) e resultantes deles suas prováveis deduções acerca
dos fenômenos observados.
Um ponto tentador para uma possível “briga
intelectual” seria na própria crença de um sujeito governante e, por isso,
dotado de consciência, ainda que no conteúdo mental habitasse níveis de
inconsciência os quais influenciariam grandemente nas ações do indivíduo. Em
função dessa capacidade “especial”, Freud entendia a mente como sendo o espaço
de estudo ideal para a compreensão do comportamento, mas os Behavioristas (pelo
menos os do início do movimento behaviorista), ao contrário, não deram crédito
ao estudo da mente em si, justamente pelo seu caráter muito subjetivo, indo de
encontro à objetividade buscada pela ainda incipiente ciência psicológica moderna.
Outro ponto muito atrativo para iniciar discussões é
o próprio conceito de inconsciência: haveria na mente um espaço, ordenação ou
níveis de consciência (inconsciente, subconsciente, consciente)? É importante
frisar isso, porque toda a teoria psicanalítica de Freud estabelece todas suas
deduções com base nessa crença. Veja-se, por exemplo, os sintomas de histeria,
os quais, segundo Freud, estariam ligados a traumas psíquicos guardados em “baús”
mentais, e que por razões estranhíssimas se faziam revelar inesperadamente.
Este conceito de níveis de consciência, mesmo não
apresentando uma comprovação experimental de sua facticidade, evidenciou um
elemento muito interessante à compreensão da ordem humana: a existência de
fatores internos os quais influenciam substancialmente a ordem de nossas ações,
sem que possamos controlá-las voluntariamente. E este se constitui um
importante contraponto ao pensamento racionalista reinante até então, de
autonomia das ações humanas.
Atualmente muitos concordam e a psicologia
evolucionista embasa essa tese de que nossas ações são autônomas, mas não “ad finitum”, antes sendo limitadas não
só por fatores físicos, mas também ambientais. Defender uma mente separada e,
por assim ser, independente, como acreditava Descartes, que se percebe quando
tentou separar o ser em “coisa pensante” ou res
cogitans e “coisa extensa” ou res
extensa, nos dias de hoje é inconcebível, tendo em vista todas as
evidências de uma atividade muito mais tautológica das funções mentais e
corporais, se é que se pode separar, e delas com o ambiente.
Mas ao ler pela primeira vez um escrito de Freud,
embora de conteúdo resumido e sucinto, confesso que tive dificuldade de
acreditar em muitas linhas de raciocínio propostas pelo autor. E não associo
isso ao estilo literário utilizado, antes às próprias inferências tomadas. Explico
melhor: o estudo de um fenômeno inicia-se com a observação, e em cima do que
foi observado elaboram-se hipóteses acerca do observado, intencionando obter
a veracidade da hipótese criam-se mecanismos de análise, com os quais se torna
possível comprovar ou refutar a hipótese levantada. Se comprovada, a conclusão
do processo torna-se uma teoria.
Pois bem, caso alguma etapa desse método (científico)
for defeituosa teremos uma teoria macabra, assim como a que me lembra da teoria
da abiogênese, na qual os ratos habitantes dos lixões seriam não só moradores
de lá, mas gerados do lixo, literalmente. O que me leva a perguntar acerca dos
métodos psicanalíticos freudianos: eles são coerentes? Suas inferências são
apropriadas? De qual ponto de apoio epistemológico nos valemos para que o
conhecimento psicanalítico não tracione para a “doxa científica”?
Apesar desses possíveis “buracos” epistemológicos e
metodológicos, Freud com certeza tem o seu mérito ao tratar de um tema não só
revolucionário e polêmico, mas inovador e incrementador de novos conceitos e
novas discussões para a ciência psicológica.
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