Estranhamente este pensamento começou há certo tempo atrás,
com apenas uma palavra: paradigma. Confesso que seu sentido era totalmente
desconhecido para mim, seu mistério, contudo, guardava um importante aspecto em
“ser” humano: precisamos de um paradigma.
Viver em paradigmas é inevitável, pois assim como não
arrancamos todos os dias a cerâmica de nossas casas para que pisemos, também
não elaboramos novos paradigmas todos os dias para acreditarmos. No máximo é
razoável mudar de piso de tempos em tempos, talvez porque ele vai ficando
encardido, ou quebradiço, ou mesmo porque se quer ampliar a casa e para que o
piso não fique desproporcional coloca-se outro.
Paradigmas, entretanto, não podem ser como cerâmicas, pois
não conseguimos trocá-los de todo, é, inclusive, praticamente impossível saber
quantos são, de onde eles se nos apresentam. E ainda que escolhessem submeter alguém
aos métodos hipnóticos e catárticos de Freud, a ciência completa do conjunto de
paradigmas não se concretizaria.
Conjunto de paradigmas? Sim, é verdade! Não poderia esquecer
de falar que não dispomos de apenas um paradigma, mas de vários, até ouso
dizer, de inúmeros! Vindos do seio familiar, do social, da religião, do
científico, só para citar alguns.
Paradigma poderia muito bem se chamar de paradoxo, porque
possui uma qualidade bastante controversa: é capaz de prejudicar, aprisionar e
subjugar, mas também libertar, ampliar e beneficiar. Como é possível? É de
certo modo complicado resolver este “enigma”, visto que os homens não são tão
acostumados a lidar com características aparentemente antagônicas, mas que
convivem lado a lado. Mas esclareçamos: um paradigma prende ou liberta,
dependentemente do ângulo de análise que está posto.
Para compreender melhor vejamos o exemplo do Paradigma
cristão: se eu creio em Deus e vejo nele o motivo de salvação e libertação,
deveria, a partir de mim, querer que todos sejam cristãos? Acaso um budista se
sentiria em paz e salvo de todo mal ou enxergaria no cristão o próprio demônio (o
inverso também é válido)? A questão paradoxal do paradigma é resultado,
portanto, de sua natureza relativa, em relação a diferentes contextos e
indivíduos.
Se bem percebeu, discuti até agora as características
inerentes ao paradigma, no entanto não ousei decifrar seu significado. Porém
para que a leitura não fique tão extensa e me ouse perder em muitas palavras,
afastando do objetivo último, que é elucidar, usarei o mesmo exemplo o qual me
fez compreender a construção do significado de paradigma: o experimento de
Stephenson.
Neste experimento foram colocados alguns macacos em uma
jaula e, com eles, uma escada em cujo topo havia um cacho de bananas. Como é de
se esperar, os macacos naturalmente subiam para pegar as bananas, mas ao
tentarem todos eram castigados com um forte jato de água. E dessa maneira
sucedia cada vez que algum macaco tentava alcançar a tão desejada banana. Com o
passar do tempo percebeu-se que dentre o próprio grupo de macacos partia a
iniciativa de punir qualquer um que tentasse se aventurar pelos degraus,
justamente pelo medo de tomarem outro banho desagradável.
O próximo passo do experimento foi retirar, gradativamente,
os macacos do início do experimento e colocar outros em seus lugares. Os novos
macacos não conheciam o estímulo aversivo (jato), mas eram espancados e
impedidos pelos antigos macacos de subirem na escada. Ao término do teste todos
os macacos haviam sido trocados, mas a punição para quem subisse na escada
continuava. Neste momento nasceria um paradigma.
Poder-se-ia descrever paradigma, portanto, como algo que
realizamos, sem conhecer as causas iniciais de seu aparecimento. A ciência,
neste sentido, poderia ser encarada como um paradigma visto termos distanciado
da realidade daqueles que efetivaram a elaboração de um dado conhecimento. De
igual maneira podem ser entendidas quaisquer produções humanas que sejam
passíveis de herdabilidade.
Se a ciência pode ser encarada como um paradigma —espero que
concordem comigo— e o paradigma tem o já referido caráter paradoxal, concluímos
que a ciência enquanto paradigma tem suas limitações e pontos de tensão (por
que não dizer brigas?). E querendo alcançar algum resultado em cima da
discussão destas “tensões” me sentiria extremamente feliz em trazer à mesa todas as
questões para debate, mas sendo humanamente impossível e temporalmente inviável,
me utilizarei do pensamento cartesiano e me deterei na “base” deste “edifício", para que sua estrutura possa ser
desfeita.
Dito isso, vamos adiante. Se escolhi discutir as bases do
paradigma, e fica incluso aqui o científico, é preciso se perguntar: quais as
bases nas quais se assentam os pilares do edifício paradigmático? Se a base é a
primeira coisa construída para levantar um edifício ou casa, é essencialmente
importante saber: qual o contexto em que surgiu?
Se pensarmos bem em cima destas questões, e se minhas
deduções em nada falharam até aqui, posso imaginar que não dispomos de recursos
tão confiáveis de produzir conhecimentos, pois minha análise se faria a partir
dos métodos e paradigmas já existentes. Paradigmas estes arbitrários, elaborados
sem a ovacionada racionalidade científica, mas também de acordo com paradigmas
consensuais, produzidos sobre a égide de um caminho epistemológico “seguro”.
Seria muita ignorância de minha parte pensar que as “brigas”
intelectuais nascem da diferença que fazemos entre um paradigma e outro? Acaso
não percebemos a “salada mista” que acontece ao longo do tempo, longe de nossos
olhos? Seria muita arrogância minha pensar que chegamos a uma ciência complexa,
mas ingênua?
Que fique claro: não defendo aqui destruir aquilo que a humanidade
elaborou até aqui, porque, como havia dito, precisamos de paradigmas. O que eu realmente
quero dizer é que além de cientistas sejamos garimpeiros, para não perder de
foco que tudo isso começou com apenas uma palavra: paradigma.
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