segunda-feira, 22 de outubro de 2012

MEMÓRIA: não se esqueça de lembrar!


“O que é a memória?”: tal pergunta parece ser uma questão bem simples e, consequentemente, também teria uma resposta óbvia, não é mesmo? Não. O senso comum de um grande número de pessoas, em ressonância com o mecanicismo cartesiano, acredita que ‘memória’ é uma parte específica do cérebro a qual seria responsável por guardar informações passadas.
É possível que esta visão seja favorecida pela analogia com a organização sistemática dos computadores (os quais também tem uma peça chamada memória, que guarda funções similares com a “memória” humana). E mesmo que não possa ser asseverado que seu termo tenha surgido com a revolução cognitiva, conjuntamente com as novas descobertas na área da informática, certamente é razoável dizer que eventuais comparações foram, de fato, inevitáveis após o surgimento de tais “máquinas inteligentes”.
Bem, não é tão evidente assim, em primeiro lugar porque o que designamos ‘memória’ refere-se, não a uma estrutura fixa no cérebro (ainda que seja possível perceber a ativação de  áreas cerebrais específicas por ressonância magnética), mas a um PROCESSO ou MODELO, o qual envolve mecanismos de: armazenamento ou codificação   transformação de dados sensoriais em uma forma de representação mental  , retenção ou armazenamento    a manutenção da informação já codificada na memória    e recuperação    que constitui no acesso às informações de experiências passadas armazenadas na memória.
Segundo lugar porque, apesar de nomearmos este sistema de armazenamento e de recuperação de dados, conferindo-o especialidade e, portanto, “tarefas singulares”; em se tratando da atividade holística das funções cerebrais, nota-se uma integralização das diferentes áreas relacionadas, por exemplo, com as emoções ou com dados sensoriais, configurando dessa maneira um continuum destas funções mentais e, irredutivelmente, suas inter-relações.
Abordando agora sob a ótica evolucionista: por que é importante termos uma função cerebral denominada memória?  Segundo os conceitos evolucionistas, um dos critérios para haver evolução é garantir a sobrevivência do indivíduo. Se, então, não possuíssemos memória seriamos menos aptos a sobreviver no ambiente em que vivemos? Sim, e a resposta não poderia ser outra: em análise filogenética, ou seja, de história de nossa espécie (e de outras espécies também), “guardar” e “recuperar” eventos passados parece ter sido uma qualidade adaptativa, e que nos ajuda, por exemplo, saber que comer amoras é ruim, pois ao comer uma amora em um tempo passado me fez passar mal e, portanto, não devo comê-la de novo.
A função memorativa por consequência também nos auxilia em tarefas utilitárias do dia-a-dia, como “decorar” uma sequência de números de um celular, a fim de anotarmos rapidamente em um papel. Tal memória é considerada de curto prazo, ou memória primária, pois nela são mantidas informações passageiras, normalmente em uso. Outra categoria (desconsiderando os meios termos desta interface funcional) seria a memória de longo prazo, ou memória secundária, a qual é mantida por um longo período de tempo.
A capacidade memorativa também favorece a existência de um “self” ou “auto-imagem”, influenciada pelos fatores sociais, familiares, ambientais e individuais. É óbvio que a existência de tal “self” não seria jamais possível caso não houvesse a qualidade de lembrar quem éramos e, portanto, a relação de continuidade, culminando em como nos vemos hoje.
A memória é tão importante que sem ela seríamos incapazes de lembrar o que havíamos acabado de discutir até aqui. E por falar nisso, qual a primeira palavra do título?

Nenhum comentário:

Postar um comentário