“O que
é a memória?”: tal pergunta parece ser uma questão bem simples e,
consequentemente, também teria uma resposta óbvia, não é mesmo?
Não. O senso comum de um grande número de pessoas, em ressonância com o mecanicismo
cartesiano, acredita que ‘memória’ é uma parte específica do cérebro a qual
seria responsável por guardar informações passadas.
É possível que esta visão seja
favorecida pela analogia com a organização sistemática dos computadores (os
quais também tem uma peça chamada memória, que guarda funções similares com a
“memória” humana). E mesmo que não possa ser asseverado que seu termo tenha
surgido com a revolução cognitiva, conjuntamente com as novas descobertas na
área da informática, certamente é razoável dizer que eventuais comparações
foram, de fato, inevitáveis após o surgimento de tais “máquinas inteligentes”.
Bem, não é tão evidente assim, em
primeiro lugar porque o que designamos ‘memória’ refere-se, não a uma estrutura
fixa no cérebro (ainda que seja possível perceber a ativação de áreas cerebrais específicas por ressonância
magnética), mas a um PROCESSO ou MODELO, o qual envolve mecanismos de: armazenamento
ou codificação transformação de dados sensoriais em uma forma
de representação mental ,
retenção ou armazenamento a manutenção da informação já codificada na
memória e recuperação que constitui no acesso às informações de
experiências passadas armazenadas na memória.
Segundo lugar porque, apesar de nomearmos
este sistema de armazenamento e de recuperação de dados, conferindo-o
especialidade e, portanto, “tarefas singulares”; em se tratando da atividade
holística das funções cerebrais, nota-se uma integralização das diferentes
áreas relacionadas, por exemplo, com as emoções ou com dados sensoriais,
configurando dessa maneira um continuum
destas funções mentais e, irredutivelmente, suas inter-relações.
Abordando agora sob a ótica
evolucionista: por que é importante termos uma função cerebral denominada
memória? Segundo os conceitos
evolucionistas, um dos critérios para haver evolução é garantir a sobrevivência
do indivíduo. Se, então, não possuíssemos memória seriamos menos aptos a
sobreviver no ambiente em que vivemos? Sim, e a resposta não poderia ser outra:
em análise filogenética, ou seja, de história de nossa espécie (e de outras
espécies também), “guardar” e “recuperar” eventos passados parece ter sido uma
qualidade adaptativa, e que nos ajuda, por exemplo, saber que comer amoras é
ruim, pois ao comer uma amora em um tempo passado me fez passar mal e,
portanto, não devo comê-la de novo.
A função memorativa por consequência
também nos auxilia em tarefas utilitárias do dia-a-dia, como “decorar” uma
sequência de números de um celular, a fim de anotarmos rapidamente em um papel.
Tal memória é considerada de curto prazo, ou memória primária, pois nela são
mantidas informações passageiras, normalmente em uso. Outra categoria
(desconsiderando os meios termos desta interface funcional) seria a memória de
longo prazo, ou memória secundária, a qual é mantida por um longo período de
tempo.
A capacidade memorativa também favorece
a existência de um “self” ou “auto-imagem”, influenciada pelos fatores sociais,
familiares, ambientais e individuais. É óbvio que a existência de tal “self”
não seria jamais possível caso não houvesse a qualidade de lembrar quem éramos
e, portanto, a relação de continuidade, culminando em como nos vemos hoje.
A memória é tão importante que sem ela
seríamos incapazes de lembrar o que havíamos acabado de discutir até aqui. E
por falar nisso, qual a primeira palavra do título?
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