quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Efeito placebo

     Meus pés percorriam rapidamente a passarela, desvencilhando habilmente dos outros transeuntes que vinham na direção contrária. Tinha muita pressa e continuaria assim, não fosse escutar uma familiar penetrante voz feminina que surgia atrás de mim: era minha colega de classe, Joana!

   Victor! Espere!    grita Joana, acelerando o passo.
   Olá, Joana! Vai para casa?
   Vou, sim! E você? Para onde vai com tanta pressa?    pergunta ainda ofegante.
   Vou para casa também...
   Ué, mas vai ter festa, alguma coisa...?
   Não, não...

     Nossas expressões, bem como nossos passos, não ressonavam naquele momento: ela andava calma e compassadamente, sem entender muito bem o motivo de um andar tão apressado como o meu, enquanto eu, com meu ritmo frenético, insistia em fazê-la andar um pouco mais depressa, para que me acompanhasse.
Passado um breve silêncio, volta a perguntar:

   E então? Por que corres como um fugitivo?
   Ah...! Não sei... Sempre andei assim!    me esquivo, sem conseguir uma resposta mais plausível para aquela pergunta.

     Em questão de segundos mergulhei num mar de idéias e recordações, tentando buscar alguma vez em que não desejei andar tão rápido... E, mesmo vasculhando muitas memórias, percebi que poucas foram as vezes que andei devagar, sem a preocupação neurótica de obedecer a relação matemática do espaço percorrido em função do tempo. Notei que foi na companhia de amigos que dei meus passos mais lentos, mas que desfrutei   mais longamente a alegria de estar com eles.
     Por que corria tanto, sem uma necessidade aparente? Nunca havia feito esta pergunta a mim mesmo, e agora estava a me questionar o por quê de correr, se após isso iria praticamente ficar sem fazer nada! Mergulhei mais fundo, e tentei notar o que sentia quando andava devagar: um desconforto, não sei... Alguma coisa que talvez sinalizava para mim inaptidão, perda de tempo, desperdício de um tempo finito para simplesmente andar mais devagar! Não é uma loucura?
     Ninguém simetriza seus passos a partir do tique-taquear dos ponteiros de um relógio, mas eu, inconscientemente, estava fazendo aquilo. Nunca consegui comer devagar, nem fazer nada devagar, nem ao menos ler devagar, minha vida estava sendo escravizada pela pressa de fazer tudo em tempo recorde! Olhei para meu caderno e imaginei os textos lá dentro guardados: todos eles estavam lidos pela metade, porque não tive paciência de lê-los ao todo! "Irresponsável!"   iriam me condenar os discípulos de Barrabás.
     Mas, apesar de nunca sermos capazes de descobrir a causa completa das coisas que nos fazem ser como somos e fazer o que fazemos, algo estava a se mostrar nestes meus pensamentos: eu parecia estar a fugir de algo, não sei se da morte ou se da vida, mas a fugir... A vida... Por qu...? Olhava Joa... Oi, Vic!...t! o... Victor!?

   VICTOR?! Você está bem?    pergunta Joana, assustada.
   Anh? Estou, estou!    respondo confuso.
   Você ficou assim com essa cara de abobalhado um tempão e não falava nada!
   Ah! Não... É porque estava aqui pensando na prova de amanhã...
   Sim... Entendi. Então tá, meu ônibus chegou! Tenho de ir, tchau!
   Até amanhã...
     Eu atravessara toda a passarela e nem havia me dado conta! E quanto tempo eu estava com Joana na parada? Também não sabia responder. Meu ônibus passou logo em seguida e eu, correndo mais uma vez, tento alcançar o ônibus já cheio.
 
     LIÇÃO DE MORAL: Correr faz bem pra saúde, mas correr demais afina as pernas!
   
   




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