quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Diamante na praia

     Muita gente deve concordar comigo que a parte mais difícil de escrever um texto é começá-lo, assim como a da injeção é o momento da perfuração. Bom, mas se a enfermeira for bem habilidosa e tiver os truques certos para driblar a percepção de seu paciente, aplicará a injeção com tanta destreza que o sujeito só notará o "já acabamos".
     Pois que assim seja! (já comecei o texto    repare que já leste um parágrafo!): certo dia fui a uma livraria aqui da cidade e estando a contemplar os vários livros, elencados em várias categorias e com espessuras que variavam de um dedo a uma mão inteira (e de dedos abertos!), comecei a filosofar...
     Pensei: quantas informações não estão presentes aqui!? Quantas verdades, fatos, realidades, mas também mentiras, pilhérias e palhaçadas!?
     Passei os olhos sobre alguns deles até encontrar: "Os clássicos da literatura". Ah! Os clássicos... Talvez eles não tivessem em suas épocas tantos livros e tanta coisa escrita a qual os impedisse de, ao menos, serem lidos! Encontrar uma obra de Platão hoje, então, seria como buscar um pequeno diamante que caiu na areia da praia...
     Quem sabe este fato não seja significativo para entender porque eles são tão ovacionados e considerados "imortais"? Sim, porque certamente enquanto seres humanos todos nós concluímos certas "verdades", e não apenas este ou aquele sujeito. Todos vivemos, não é mesmo? Então por que pensar que existem escritores "iluminados"?
     Vou até mais longe: ainda que uma pessoa escrevesse sobre os mesmos temas e sobre as mesmas coisas que um autor famoso (sem lê-lo, óbvio), esta não teria jamais o mesmo brilho que aquele. Ou porque já foi dito, ou porque ela simplesmente não tem 'nome' ou, melhor dizendo, 'renome'. Se a hipocrisia não disser o contrário, não é exatamente assim que funciona na academia?
     Meu pensamento deságua, portanto, numa questão emblemática: qual o lugar reservado para os escritores desse século? Estarão relegados ao triste ostracismo de nunca serem vistos ou preferirão acumular títulos para, quem sabe um dia, conseguirem a voz da palavra? Para mim está claro: hoje em dia não é mister ser apenas um dominador de palavras rebuscadas ou possuir uma qualidade gramatical invejável para ser um "bom escritor", como de certo modo acontecia antigamente.
     É preciso ter o rabo bem preso, para não fugir das "regras da boa escrita" e, assim, agradar tanto ao público (quando se tem) quanto as editoras sanguinárias. Mas se tens sangue forte e muita garra podes escolher um caminho alternativo e fazer um link entre seu sonho de escrever e, quem sabe, ser lido: a internet. Obra maravilhosa a qual não te cobra prazos para escrever, nem conteúdos sobre o qual escrever   ao menos não explicitamente. O máximo de investimento que farias seria de tempo e de energia elétrica.
     "De boa", como diriam alguns colegas meus. De boa... Já posso ser lido? Ah, claro, desculpe... E agora? Tá, ainda não... E...? É isso, você não vai necessariamente ser mais lido apenas por estar na internet, ainda que milhões de pessoas estejam acessando neste exato momento. Se não estás nas prateleiras com outras centenas de livros, compartilhas agora o mesmo espaço que uma infinidade de outros escritores decadentes! Outros esses que podem ter uma qualidade de escrita, já outros que pena dizer: "tentem mais tarde"...
     Outro dia me dispus a procurar a URL do meu próprio blog no google, e, mesmo digitando corretamente, letra por letra, não consegui achar qualquer sinal de existência de minha página!
     Vejam só: se eu próprio não consegui achar aquilo que tinha certeza estar lá, imaginem se outros encontrarão?! Melhor desistir de dar uma de escritor e tentar encontrar aquele diamante que caiu na areia, pelo menos assim ainda ganho uma boa grana!



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