sábado, 22 de setembro de 2012

Você e eu

      Meu nome é Victor, tenho 19 anos. Você me conhece (de fato)? Se, de alguma forma, estás inclinado a conhecer-me posso ajudá-lo com uma simples definição de mim mesmo: eu sou, apenas e sem mais acréscimos.
      Entendo... Provavelmente você esperava que eu informasse minha altura, meu peso, minha cor de pele, mas estes atributos não correspondem ao que, de fato, sou. Se pareço caucasiano posso muito bem pegar um bom dia de sol e me tornar moreno (inclusive, quantos já não foram crianças "loiras" um dia, e hoje são tão morenos quanto eu naquele dia de muito sol?). Cabelos castanhos ficam brancos, podem cair; olhos enérgicos são apagados por pregas, rugas; barrigas tanquinho podem se tornar pias redondas e fundas, muito fundas!
      Nosso corpo muda e mudamos com ele... Mas completamente? Também penso que não, que somos parte daquilo que éramos e que, portanto, ainda somos. Seria então como uma casa, construída e rebocada paulatinamente, até que sua estrutura não suporte mais e desmorone por completo (e de uma só vez). Não adianta muito, portanto, psicologizar ou cientificizar em torno do "quem somos", numa tentativa histérica de tapar a lacuna que existe em nossa existência.
      Se fosse eu próprio quem estivesse lendo este texto provavelmente já até o teria deixado de lado. Isso porque existir/ser, apesar de ser tão evidente, é obscuro e, irremediavelmente tem uma face que jamais a conheceremos, justamente esta a qual ansiamos desvendá-la. Assim sendo, por quê ler algo "inútil" e, por assim dizer, desnecessário? Realmente não faz sentido... Mas, calma! Não quero que abandone estas minhas palavras, pois elas podem ter (eu falei: podem ter) algo a acrescentar.
      Todo este meu presente pensamento começou com uma foto (minha): eu tinha 5 anos e estava vestido com uma camisa listrada (estilo marinheiro, inclusive com listras azuis) e de cueca. Não me recordo daquele momento, mas estava sorrindo safadamente para alguma pessoa que a foto não revela. "Eu era uma linda criança!", pensei. "Meu Deus, como o tempo passou tão rápido!". Olhando hoje para um espelho percebo que, mesmo aos 19 anos, alguma pregas já se mostram na testa, também que cresceu um pêlo grosso o qual na foto era inexistente.
       Cecília Meireles certamente sentiu a mesma sensação que tive de me ver mais de dez anos depois: "em que espelho ficou perdida a minha face?", pergunta ela, não sei se com um pouco de saudosismo ou de melancolia de ver se corpo mudando a passos largos enquanto a sua "essência", isto é, quem ela "é", caminhando num ritmo bem diferente, mais sereno e sem pressa, como se tivesse a eternidade para desfrutar.
      Às vezes fico sonhando em como seria interessante voltar ao passado, como uma espécie de mágica, não com a essência da pessoa de anos atrás, mas com a que desfruto hoje. Às vezes escrevo para o meu futuro "eu", para que faça desse ou daquele jeito, mas, ele me ouvirá? Acaso pensará como o "eu" de hoje? Acaso me olhará como se fosse um completo idiota? Não sei até quando me verei no espelho, aquela parte de mim que não vejo, mas sinto.
      Talvez fique mais feliz agora em saber que sinto estas coisas e que você as sente também, ao menos agora sabemos: somos mais parecidos do que pensamos e de que, a partir de você, é possível construir uma parte de mim e entender quem sou.
     

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